Entrevistada: Wlamyra R. de Albuquerque.
1-Os alunos do Colégio Antônio Vieira, por meio do projeto África estão lendo o livro "Uma história da cultura Afro-Brasileira”. O que te levou a escrever esse livro?R: O livro surgiu da necessidade que eu e o professor Walter Fraga notamos de material sobre a história afro-brasileira dedicada a um público jovem. O que pensamos então foi em produzir um material que, numa linguagem não acadêmica, traduzisse as principais questões apresentadas hoje pelos pesquisadores das áreas de história da escravidão e da emancipação no Brasil.
2-Pelo fato da África ser um continente muito pobre economicamente e passar uma imagem de miséria, não vemos muitos livros falando sobre tal. O que te estimulou a fazer esse livro falando tão bem sobre esse continente?
R: A história do continente africano é muito complexa. É verdade que a África possui hoje os piores índices de desenvolvimento e qualidade de vida, mas nem tudo é pobreza entre os africanos. Há muitos recursos naturais que ainda são muito explorados por empresas europeias, asiáticas e até brasileiras. As principais tragédias africanas não são naturais, foram construídas ao longo de séculos de exploração do solo, subsolo e mão de obra ali disponíveis. E enquanto não estivermos todos empenhados em colaborar para o pleno desenvolvimento dos povos africanos, nos manteremos coniventes com as precárias condições de vida às quais estão relegados. Estudar e escrever sobre a vida dos africanos no Brasil também é uma maneira de
expressar o nosso respeito e solidariedade com aqueles que nos formaram.
3- Na época do comércio triangular, muitos escravos africanos vieram para o Brasil, principalmente para as cidades litorâneas, para exemplificar isso podemos citar o fato de Salvador, capital baiana, ser a cidade fora da África na qual existe o maior número de africanos. Você poderia explicar qual foi a importância do comércio triangular para a Bahia ?
R: O tráfico atlântico por muito tempo foi um negócio muito lucrativo e envolveu nações e elites europeias e brasileiras, dentre outras. O grande número de africanos escravizados para as cidades brasileiras é a prova das grandes somas de dinheiro arrecadas com quem comercializava carne humana.
4-Segundo dizem, a África é um continente muito pobre economicamente, porém rico em cultura. Para você qual é a maior riqueza da África?
R: Como já disse a pobreza africana não pode ser entendida sem pensar quem, explora as suas riquezas. E também não há só pobreza entre os africanos. Por outro lado, vivemos hoje tão preocupados com consumo, - todo mundo acha que precisa ter tudo que vê, precisa ter tudo que gosta para ser feliz, - que aprendemos a interpretar tudo que não foi comprado com pobreza. Há inúmeras comunidades no Benim, por exemplo, que vestem roupas sofisticadas, usam adereços lindos que foram produzidos por eles mesmos. O fato deles não consumirem tantos produtos industrializados como nós, não quer dizer que eles são pobres. É evidente que eles portam culturas muito ricas e sofisticadas, mas não podemos pensar a riqueza cultural como algo que compensa a pobreza econômica. Consumo e cultura são valores diferentes.
5-De acordo com seu livro, a cultura africana influenciou fortemente a cultura brasileira, criando assim, a cultura Afro-Brasileira. Você se orgulha de ter origens africanas?
R: Mais que influenciar, os povos africanos formaram o Brasil. Isto não quer dizer que portugueses e povos indígenas não contem, mas os grandes e variados contingentes de africanos escravizados no nosso país moldaram o modo como pensamos o mundo, como usamos o espaço público como lidamos como as nossas dificuldades e lutamos por liberdade. Os brasileiros, independente da cor da pele, são constituídos pelas referências herdadas destes povos. Tenho muito orgulho de descender dos africanos e carregar isto no meu corpo, na minha pele, no meu cabelo. O que sei e o que penso fazem parte deste pertencimento.
6- Além da cultura, o Brasil tem mais alguma semelhança com a África?
R: Os brasileiros se parecem com povos, regiões e países da África das quais recebemos os maiores grupos populacionais, como Angola. A presença portuguesa na África também fez com que fosse possível existir uma comunidade falante de português formada pelo Brasil e outros países daquele lado do Atlântico. Vejam o vídeo: Língua.
7-Em sua opinião, qual é a importância de conhecer a história da África?
R: Conhecer histórias e culturas africanas é um esforço para conhecermos a nós mesmos.
8- As duas leis do governo federal ( 10.639\2003 e 11.645\2008 ) obrigam as escolas públicas e particulares a incluírem em seus currículos escolares, o tema África .Você concorda e apoia a iniciativa do Colégio Antônio Vieira em fazer um projeto relacionado a África ?
R: A iniciativa do colégio Antônio Vieira é incrível. É um das primeiras, dentre as grandes instituições de ensino do estado, a reconhecer e acolher as determinações das leis 10.639 e 11.645. Fico muito orgulhosa que estar participando desta ação tão importante para a formação das novas gerações de nosso país. Se quisermos uma sociedade que supere os preconceitos e desigualdades raciais é preciso abordar a história para entender não só o que aconteceu no passado, mas principalmente como e porque no Brasil negou por tanto tempo o quanto somos racistas. Tirar de debaixo do tapete os nosso preconceitos e buscar superá-los parece ser um desafio assumido pela escola. Parabéns ao Colégio Antônio Vieira pelo pioneirismo e ousadia.



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